domingo, 30 de novembro de 2008

Poema de Natal - Vinícius de Moraes


Poema de Natal

Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente


Soneto de Natal - Machado de Assis


Soneto de Natal

Machado de Assis

Um homem – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações de sua idade antiga
Naquela mesma velha noite amiga
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto...
A folha brancaPede-lhe a inspiração;
mas frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:

“Mudaria o Natal ou mudei eu?”


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Filosofia na Obra de Guimarães Rosa

Por Raquel F. Souza

Ligar os discursos filosóficos aos literários, que há na obra “Grande Sertão: veredas”, a fim de identificar a ficção e o humano que há na construção das personagens principais, tal como encontrar nos discursos intelectuais “filosóficos” o que liga tais personagens ao lugar da verossimilhança, capaz de fazer-nos aceitar o convite de Rosa à reflexão e aproximá-los da realidade; da nossa realidade; num processo constitutivo. “ A linguagem constitui a realidade” (Wittgeinsten).

Ao inserir características humanas nos personagens (tão humanos) como: medo do desconhecido; medo do mal; personalidade; falsidade (representação); maldade e amor, ao mesmo tempo, outras; João Guimarães Rosa consegue mexer com o senso intelectual do leitor/ ser humano, ao passo que constrói os personagens Diadorim e Riobaldo tão sábios e reflexivos e ao mesmo tempo tão finitos e limitados, a ponto de não conhecerem a si mesmos, apresentando assim um diálogo contrário ao socrático: “Conheça-te a ti mesmo”, caindo na eterna contradição humana: conhecer os outros, mas não conhecer a si mesmos.

Texto na íntegra:
http://www.theresacatharinacampos.com/comp2057.htm

Filosofia na Obra de Machado de Assis

Por Miguel Reale

Quem se dispõe a apreciar os aspectos filosóficos da obra de Machado de Assis vê-se logo perante uma alternativa: Filosofia de Machado de Assis, ou na obra de Machado da Assis? Não há nada de surpreendente que se comece por uma aporia, pois as perplexidades, os contrastes e as contradições enxameiam os romances, os contos, as crônicas, as poesias e as páginas de crítica do patrono da Academia Brasileira de Letras, comprazendo-se ele em jogar com termos opostos ou distintos, sem que seu espírito opte por um deles, preferindo antes mantê-los correlatos numa viva concretude.
Pelo que me foi dado observar, relendo as obras de Machado de Assis, ele emprega a palavra “filosofia’’ pelo menos com três acepções distintas, às vezes complementares. Em primeiro lugar, usa o termo em tom jocoso, como, por exemplo, ao referir-se ao ‘grunhir dos porcos, espécie de troça concentrada e filosófica”,ou,a “um asno de Sancho deveras filósofo”,ou quando nos mostra Quincas Borba a trincar uma asa de frango “com filosófica serenidade”.
Não se pense que Machado de Assis tenha desapreço pela Filosofia, pois bem poucos de nossos escritores revelam tão constante preocupação filosófica, que, no prefácio do romance cujo primeiro centenário estamos comemorando, é deliciosamente apresentada como “rabugens de pessimismo”.
Poder-se-ia afirmar que é com essa obra que se afirma, em toda a sua plenitude, a que poderíamos qualificar, sob certo prisma, de “fase filosófica” da criação machadiana, quando o enredo ou a trama dos romances adquirem transparência através dos valores introspectivos do autor,cuja presença risonha e crítica ora ilumina os episódios,ora lhes oculta o sentido,quando não os abre num desconcertante leque de perspectivas.

Texto na íntegra
http://www.academia.org.br/abl/media/prosa44a.pdf

sábado, 15 de novembro de 2008

Jorge Amado - Legível aos brasileiros e atraente aos estrangeiros

"A obra de Jorge Amado é talvez a maior empreitada literária para tornar o Brasil legível aos seus contemporâneos e atraente aos estrangeiros. A fim de criar um universo de histórias e personagens que interessassem aos brasileiros, escreveu mais de 40 livros, adotando, na maioria deles, a forma clássica do romance. Não se interessou pelas experiências vanguardistas. Queria ser lido por todos.
Sua literatura, de ambição balzaquiana e folhetinesca, buscou descrever tanto a violência que define as nossas relações sociais, quanto a esperança, a ternura e a malícia que ele imaginava constituintes do caráter do ‘povo brasileiro’. A Bahia é seu porto, mas os seus livros são todos eles a universalização de lutas empreendidas pelos personagens por justiça ou pelo direito de viver.
É essa confluência entre sentido social e humanista da obra, reivindicação política, riqueza romanesca e forte coloração local que fez a fama internacional de Jorge Amado. A alguns estrangeiros, porém, o que fascina no escritor não é o elemento tropical, mas o engajamento, expresso principalmente em suas obras iniciais, seja na revolução comunista, seja na expressão romanesca dos ‘gestos e gritos’ da vida, como assinalou Albert Camus.
Para descobrir esse Jorge Amado dos primórdios é preciso hoje algum esforço. A sua glória obscureceu a sua literatura. As facilitações que pôde fazer nas obras finais eclipsaram o drama de seus principais livros. Aos poucos, Jorge Amado foi folclorizado e se folclorizou, enquanto vinha por terra o comunismo e a sua influência na política local. Seus personagens se transformaram em imagens de uma brasilidade arquetípica. Ele próprio se tornou ponto turístico da Bahia, que por sua vez passou a se confundir com seus livros. Jorge Amado realizou a proeza que almeja todo escritor. Viu sua obra penetrar no imaginário de seu tempo e construir um mundo que não é mais particular, mas de milhares, de uma época inteira. Isso faz um clássico. Um dia talvez a sua outra ambição possa se manifestar: a de que essa obra seja lida como apelo à libertação e à liberdade, que, na sua literatura, constituem a glória e a razão de viver.
"Jorge Amado", copyright Folha de S. Paulo, editorial, 8/8/01
Saiba mais:

A sociedade nas crônicas de Luís Fernando Veríssimo

Por:
Cristina Markowski / Claudia Carvalho / Rodrigo Santos de Oliveira

Caráter sociológico presente em suas obras
As crônicas ficcionais de Veríssimo a que nos reportaremos, intituladas: “A volta da Andradina”, “A mulher do Silva”, “Posto 5” e “A descoberta”, serão utilizadas para comprovação da natureza social dos textos desse escritor.

A primeira delas, “A volta da Andradina”, trata do constrangimento de uma família ao receber de volta um ente recém-separado, Andradina, ainda muito abatida, devido ao recente desenlace conjugal. A simples menção ao nome de seu ex-marido vira tabu, e todos na casa se vêem numa posição muito desconfortável, evitando ao máximo qualquer referência ao casamento desfeito.

Na segunda, “A mulher do Silva”, a questão fundamental está relacionada à preocupação das pessoas com a opinião alheia, com as convenções sociais. O personagem Silva, ao exigir de um vizinho que pintasse a fachada de sua casa, na qual foram escritas palavras que colocavam em dúvida a conduta moral de sua esposa, acaba por arcar com todas as despesas relativas à pintura. Acontece que, depois disso, outras casas da mesma rua apareceram com insinuações semelhantes sobre a mulher do Silva em suas fachadas. Silva não teve dúvidas: mandou pintá-las também.

Na penúltima crônica, “Posto 5”, o tema abordado é o relacionamento de uma mulher madura com um rapaz vinte anos mais jovem e a decepção que ela sofre quando, dois meses após tê-la abandonado, ela o reencontra na praia e ele, ao invés de implorar pelo seu perdão e pedir para que ela o aceitasse de volta - como era da vontade dela - a apresenta ao seu novo amor, uma garota de dezoito anos.
Por fim, em “A descoberta”, o enfoque fica por conta das expectativas paradoxais que um pai deposita no filho. O pai aparece de surpresa no apartamento do filho, após anos lhe mandando dinheiro, a pretexto, segundo o filho, nas cartas que escrevia para pedir dinheiro, de custear noitadas regadas a bebidas e mulheres. Esse pai chega ao apartamento de seu filho cheio de orgulho e louco para ver com seus próprios olhos o espécime viril e fanfarrão que ele ajudara a gerar. Qual não foi a decepção dele quando ouve de seu filho que não havia, nem nunca houve, mulheres, tampouco orgias sexuais regadas a uísque importado, e que o dinheiro que ele lhe enviara durante todos aqueles anos custeara os seus estudos da faculdade e materiais de pesquisa.

Após essas colocações, podemos concluir que, por trás das crônicas de Luís Fernando Veríssimo há toda uma estrutura social minimamente demarcada. Seus personagens são seres comuns, figuras criadas a partir de estereótipos estabelecidos pela sociedade em que vivemos. As situações expostas em suas criações são as mais corriqueiras possíveis, vivenciadas por todo e qualquer mortal em seu dia-a-dia, afinal de contas, quem de nós não viveu ou conhece alguém que tenha vivido, alguma vez na vida, alguma das quatro situações elencadas acima? Veríssimo cria seres eminentemente sociais e escreve suas crônicas para outros seres capazes de compreender o que há por trás de cada metáfora por uma razão muito simples: a de que nós, seres sociais, exercemos uma capacidade muito grande de identificação com os temas e personagens com que ele tão generosamente nos presenteia.

A maneira como Luís Fernando Veríssimo escreve revela sua competência em abstrair toda a essência da sociedade em que ele, escritor, está inserido, e transferi-la para o leitor. Seu poder de representação da realidade de maneira ficcional traduz todo o valor estético de suas obras.
Portanto, não resta dúvidas de que podemos enxergar a sociedade refletida nas obras de Luís Fernando Veríssimo, com todos os seus vícios e suas virtudes, expondo suas mazelas com muito bom humor e ironia.
Texto na íntegra:

Admiração - Vinícius de Moraes e Carlos Drumond de Andrade


Por: EDUARDO SIMÕES



A admiração mútua entre Vinicius de Moraes (1913-1980) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), manifestada em crônicas e entrevistas de ambos, está para ganhar nova expressão pública na forma de um poema inédito em livro. Escrito no fim dos anos 40, "Retrato de Carlos Drummond de Andrade" (reproduzido nesta página) foi descoberto pelo poeta e professor Eucanaã Ferraz e será publicado em novembro no livro "Poesia Esparsa", título provisório de um dos 15 lançamentos ligados ao poeta carioca, que a editora Companhia das Letras coloca no mercado até 2011 (leia abaixo).Na primeira estrofe, Vinicius diz:
"Duas da manhã: abro uma gaveta
Com um gesto sem finalidade
E dou com o retrato do poeta
Carlos Drummond de Andrade".
Segundo Ferraz, trata-se de "um típico poema que nasce de um ato banal, algo que Manuel Bandeira chamava de poema desentranhado". Ferraz ressalta ainda que entre Vinicius e Drummond não chegava a haver uma ligação de irmãos, como havia entre o poeta e compositor carioca e Manuel Bandeira (1886-1968). "Mas eram amigos e freqüentavam a casa de amigos em comum, como Rubem Braga", diz.


Texto na íntegra:

Um pouquinho da vida particular de Guimarães Rosa



Galeria Casal Rosa
Acervo Família Tess
Em 1949, Rosa e Aracy estiveram em Chamonix, uma estação de esportes de inverno nos Alpes franceses. Depois de anos morando no Brasil, o casal voltou à Europa quando Guimarães Rosa foi convidado para trabalhar na Embaixada do Brasil em Paris. Numa carta ao amigo Pedro Barreto, Rosa fala de seus dias a "contemplar neves, picos de montanhas, florestas de abetos e pinheiros, esquiadores, patinadores e trenós"
No link abaixo, mais fotos

Último Soneto escrito por Machado de Assis


Quando a esposa de Machado de Assis morreu, o escritor, muito triste, escreveu um poema no qual se despede dela. O soneto, intitulado "A Carolina", faz parte do livro "Relíquias de Casa Velha", publicado em 1906, e foi o último escrito por Machado de Assis.


A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos.



Mostra Machado de Assis

Museu da Língua Portuguesa prorroga mostra Machado de Assis

O Museu da Língua Portuguesa decidiu prorrogar a permanência de Machado de Assis: mas este capítulo não é sério, em cartaz no primeiro andar – espaço dedicado a mostras temporárias. Aberta ao público no dia 15 de julho. Machado de Assis fica no Museu até o dia 01º de março de 2009.

Museu da Língua Portuguesa
Endereço: Praça da Luz, s/nº,
Centro - São Paulo – SP
Fone: (11) 3326-0775

http://www.saopaulo.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=99143

domingo, 9 de novembro de 2008

Frases - Machado de Assis


Frases - Guimarães Rosa


Saber mais...
Site com frases de Guimarães Rosa. Vamos averiguar a veracidade delas? Descobrir quando e onde foram citadas?


Eu não sei quase nada, mas desconfio de muita coisa

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”

“As pessoas não morrem, ficam encantadas”

Site: http://www.ditados.com.br/autor.asp?autor=Guimarães%20Rosa

Frases - Vinícius de Moraes


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Site com frases de Vinícius de Moraes. Vamos averiguar a veracidade delas? Descobrir quando e onde foram citadas?

“e de amar assim, muito amiúde, é que um dia, em teu corpo de repente, hei de morrer de amar mais do que pude”.

“Amar, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido”

“Amor: que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”

Site: http://www.ditados.com.br/autor.asp?autor=Vinicius%20de%20Morais

Frases - Luís Fernando Veríssimo


Frases - Jorge Amado


Saber mais...
Site com frases de Jorge Amado. Vamos averiguar a veracidade delas? Descobrir quando e onde foram citadas?

" A amizade é o grande bem da vida".

“Um escritor aos 80 anos está começando a aprender a escrever.”

“Eu sou muito otimista, muito. O Brasil é um país com uma força enorme. Nós somos um continente, meu amor. Nós não somos um paisinho, nós somos um continente, com um povo extraordinário.”

Site: http://www.ditados.com.br/autor.asp?autor=Jorge%20Amado

domingo, 2 de novembro de 2008

Ensaio: Luís Fernando Veríssimo e o riso

Por Giuliana Capistrano Cunha Mendes de Andrade e Marlise Vaz Bridi

A obra de Luís Fernando Veríssimo já tem lugar consolidado no vasto cenário da produção artística brasileira contemporânea. Embora seu sucesso seja notório junto ao público, permanece distante das discussões acadêmicas. Nenhum estudioso literário, até o presente momento, interessou-se em esmiuçar a obra do autor. O artigo procura explicar a ausência de fortuna crítica em relação à obra de Luis Fernando Verissimo, bem como expor algumas teorias do riso que contribuem para a percepção da profundidade dos pensamentos do escritor e de seus objetivos encobertos pelas situações cômicas, humorísticas, satíricas ou chistosas.

Leia na íntegra
http://www.inicepg.univap.br/INIC_2006/epg/08/EPG00000512-ok.pdf

Ensaio: Personagens árabes na obra de Jorge Amado

Por Jorge Medauar*

Com essa retrospectiva resumida, de tantas e tão profusas marcas árabes nas várias culturas do mundo, mas especialmente na nossa, é mais do que natural que um escritor, com raízes tão populares quanto Jorge Amado, traga, no bojo de sua tão extensa obra, a presença marcante dessa influência não apenas na língua, seu preponderante instrumento de expressão, como nos personagens árabes ou de origem árabe que se misturam tanto na "democracia racial brasileira", em geral, como particularmente no tecido de seus romances; movimentando-se entre negros, crioulos, espanhóis ou portugueses criados para viverem o drama, a tragédia, ou o amor que palpita nos romances desse autor que é o mais importante e mais expressivo escritor da "nação grapiúna", definida por Adonias Filho, outra não menos significativa expressão daquela "civilização" tão peculiar.
Jorge Amado é, na verdade, aquele que cantou tão bem a sua aldeia, com árabes, negros, etc., que se universalizou, universalizando sua terra e, por extensão, todo o país. Nenhum dos seus leitores de origem árabe ou leitores comuns, do Brasil ou de qualquer país onde estejam suas obras traduzidas, ao deparar com algum dos seus personagens árabes, não encontraria neles nada que não seja genuinamente árabe quer nas reações, no comportamento psicológico, como na descrição física, com suas características raciais, bem como nas suas atividades de trabalho, que são, preponderantemente, o comércio.
Mas há também o malandro. O contrabandista. Ou o intelectual. Circulando em seus romances, vindos de Ilhéus, de Itabuna, Água Preta ou Salvador, seus árabes ou descendentes caminham em seu universo com a mesma naturalidade dos tabaréus, coronéis, bacharéis, prostitutas, malandros, trabalhadores de roça, capoeiristas, jagunços, gente anônima das ruas. E muitos entraram em sua obra tão marcantemente como Jubiabá, Guma, ou Tereza Batista, transformando-se no personagem principal, naquele em tomo do qual se desenrola a história ou o romance. É bem o caso de Nacib, de Gabriela, Cravo e Canela, e desse fabuloso Fadul Abdala, de Tocaia Grande, que tivemos a honra de conhecer ainda no embrião da história. Em outubro de 1983, quando Jorge Amado principiava a escrever seu romance, mandou dizer-nos, em carta: "Este meu romance da 'face obscura' está cheio. de árabes: um deles, Fadul Abdala, personagem fundamental, é porreta. Aliás, aconteceu uma coisa engraçada: para contar uns percalços de Fadul acabei escrevendo uma noveleta (45 páginas) de árabes em Itabuna, mas eu a retirei do contexto do livro onde ela pesava demasiado sobre a história do lugarejo - cujo nome é Tocaia Grande, futura Irisópolis. Mas, quando terminar o livro, voltarei a trabalhar a noveleta da luta entre Deus e o Diabo pela alma de Fadul".
Leio o texto na íntegra: http://www.hottopos.com/collat7/medauar.htm
* Romancista, contista e poeta. Artigo publicado originalmente em nossa Revista de Estudos Árabes N. 1, DLO-FFLCHUSP, 1993.

Ensaio: Vinícius de Moraes e a Morte

Por: Seleste Michels da Rosa

Percebemos mediante a leitura da obra completa de poesias de Vinícius que o poeta conhecido por suas canções de amor tem uma obsessão bem diversa daquela pela qual ficou conhecido: a morte. Por isto, esse ensaio pretende ver como o poeta Vinícius de Moraes trata este tema, e isso também revela o quanto a crítica comum não estava de todo equivocada quando liga estreitamente o poeta ao amor, pois a morte que o poeta apresenta é bastante ligada à temática amorosa. Conforme Gomes ([s.d], p.28), isso é comum na poesia metafísica: “Muitas vezes, entrelaçado ao tema do amor, surge o da morte, tanto em poemas profanos como religiosos [...]”. Sabemos que na obra de Vinícius há tanto poemas religiosos quanto profanos e veremos como essa ligação se repete nos dois tipos de suas poesias.
Através desta preocupação com o tema da morte, o poeta adentra um estilo de poesia
metafísica, já que “o que caracteriza a metafísica é a transcendência.” (FREICHEIRAS, 2001, p. 62). E o poeta parece tratar exatamente deste lugar onde o concreto sozinho não pode dar conta da explicação do mundo. O lugar onde isso se mostra mais evidente é a hora da morte, o momento sublime onde um indivíduo deixa de estar em seu corpo. É nesse momento que vemos o ser superar o ente, ou seja, o ser humano é mais universal nesta hora comum a todos, por isso supera sua condição de ente, isto é, singular e individual. Assim, a relação com essa temática busca a essencialidade do humano. Conforme afirma Morin (1988, p. 31): “este horror engloba realidades aparentemente heterogêneas: a dor do funeral, o terror da decomposição do cadáver, a obsessão da morte. Porém, dor, terror e obsessão têm um denominador comum: a perda da individualidade.”. Sendo assim, na morte, nos entrosamos em um sentimento coletivo, que tende mais à espécie do que ao sujeito e isso nos põe em conflito direto com a idéia de morte. De uma leitura atenta de sua obra podemos ver o quanto o poeta trata a morte de maneira conflituosa, ora como fuga dos desejos incessantes da carne, ora como apavorante fim da doce vida; mas é perceptível que em ambas situações essa
temática está ligada ao desejo, como castigo ou como fim dele e nos poemas do fim da vida, a uma certa plenitude do amor verdadeiro.

Leia o ensaio na íntegra
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/viewFile/5092/2914

Ensaio: Machado de Assis - O fio do Machado...de Assis

Por Demétrio Pereira Sena
Fonte: http://sitedepoesias.com.br/poesias/28424

Machado não rui. Jamais rui. Sua obra, tijolo por tijolo, foi construída sobre alicerce não perecível. É um escritor que nasceu eterno. É, porque não morreu. Descobriu a imortalidade nas nossas letras e a dividiu sem medo. Soube de chofre, que a imortalidade é divisível sem ter como efeito final a sua subtração.Foi Machado de Assis quem desbravou, sem desmatar, a selva literária em que tantas "feras" do meio se digladiavam buscando posições destacadas. Fez-se rei da "selva" sem ter de trasladar o trono. Reinou - e reina - em harmonia com os que o aclamaram - e aclamam -reconhecendo o valor, o alcance e a consistência de seu legado.Há um século Machado de Assis mudou de lado. Ou de plano. Tanto tempo depois, ele continua moderno. Ainda revoluciona. De todos os clássicos, por exemplo, é o escritor predileto entre os jovens estudantes de nossos dias.O fato é que Machado corta o tempo com o gume afiado de quem conhece o tronco e a seiva de uma sociedade que não muda, em essência. Trocam-se o vestuário, as condições de moradia, os costumes, o linguajar e a cultura, mas a essência é a mesma. Ele sempre escreveu sobre a essência. O comportamento íntimo e insondável do ser humano.Nosso Machado vence os anos, porque sua trajetória é superior. Derruba o mito inconcebível, no seu caso, do vencido e ultrapassado. Seu corte não nos legou lenha. Deixou diamantes literários. Históricos. Um passado com futuro perpétuo.Para sermos sinceros sobre Machado de Assis, nada mais podemos do que delirar sobre ele. Descrevê-lo de modo menos subjetivo seria injusto. A objetividade o remortalizaria em nossas tintas. Ele não só está no além. Está além de nossas descrições.

Ensaio: A linguagem oculta de Guimarães Rosa

Por Jorge Fernando dos Santos*

Apontado como o livro mais importante da literatura brasileira, o romance Grande sertão: veredas completou 50 anos de publicação em 2006. No entanto, a mídia nacional, sobretudo televisiva, não soube aproveitar a oportunidade para divulgar e desvendar esse verdadeiro enigma literário da cultura brasileira. Precipitadamente vinculado ao “regionalismo” pelos críticos mais afoitos, o autor hoje centenário, João Guimarães Rosa, não se limitou a reproduzir aspectos meramente locais em sua obra. Pelo contrário, partiu da recriação desses aspectos para narrar epopéias que ultrapassam o universal e atingem o campo transcendental. Para ele, “sertão é dentro da gente”.
Estudado em vários países devido principalmente aos requintes de linguagem de sua literatura, Rosa pode encantar o leitor também sob outros aspectos. Estudiosos de sua obra, leitores comuns e professores que trabalham Grande sertão: veredas em sala de aula devem procurar no texto não apenas as águas da superfície, onde se narra o enredo principal de aventuras, mas também as correntes mais profundas, nas quais habitam senhas e símbolos de diferentes escolas filosóficas e esotéricas. Longe da religiosidade oficial, o autor procurava dar um sentido profundo e oculto a tudo o que escrevia, fazendo de sua literatura um jogo que desafia olhares argutos. Não por coincidência ele foi um aficionado do xadrez e leitor de obras transcendentais relacionados a outras culturas.
Por essas e outras, os iniciados em Rosa são constantemente convidados (ou mesmo desafiados) a enxergar e a interpretar tais senhas e símbolos sob a luz da Alquimia, da Astrologia, do Hinduísmo, da Maçonaria, do Platonismo, do Taoísmo ou mesmo da Psicanálise. Isso faz de sua obra algo maior do que a literatura por excelência, repleta de significados e labirintos que lhe dão abertura para várias interpretações. Há quem considere o Grande sertão: veredas uma espécie de livro sagrado, feito para ser “recitado” em voz alta, ritualisticamente, como a Bíblia ou o Bhagavad Gita.
Fanatismos à parte, Rosa não quis nos oferecer uma obra rasa, de fácil leitura e compreensão, destinada ao mero entretenimento, como tantos best-sellers que entopem as livrarias nos dias atuais. Poucos tiveram tanta consciência da escrita quanto ele. A exemplo de autores clássicos como Homero, Dante, Cervantes, Goethe, Dostoiévski, Borges e Fernando Pessoa, para ele a palavra era forma, fôrma e energia. Mais que isso, era um símbolo a transmitir idéias e a despertar o inconsciente do leitor. Sua sabedoria no trato com o vernáculo, principal ferramenta de quem escreve, tornou-se o grande diferencial de sua obra, algo insuperável em comparação com outros escritores. Também o fio da narrativa é inovador, se considerarmos que o “doutor” a quem o protagonista Riobaldo narra sua epopéia é ninguém menos que o próprio autor – podendo, em outro momento, ser também o leitor.
Leia o ensaio na íntegra no site: http://www.tirodeletra.com.br/ensaios/LinguagemocultadeGuimaraesRosa.htm

Seu site é http://www.jorgefernandosantos.com.br/

Machado de Assis - Ocidentais


O DESFECHO

Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
Uns cingidos de luz, outros ensangüentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a água em cima os olhos espantados.

Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.

Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplício e acabara o homem.

Download Obra Completa


Vinícius de Moraes - Antologia Poética


Antologia Poética de Vinícius de Moraes - um dos mais belos livros de poesia.


Soneto de fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure


Site pesquisado:

Luís Fernando Veríssimo - As mentiras que os homens contam


Nós nunca mentimos. Quando mentimos, é para o bem de vocês. Verdade.
Começa na infância, quando a gente diz para a mãe que está sentindo uma coisa estranha, bem aqui, e não pode ir à aula sob pena de morrer no caminho. Se fôssemos sinceros e disséssemos que não tínhamos feito a lição de casa e por isso não podíamos enfrentar a professora a mãe teria uma grande decepção. Assim, lhe dávamos a alegria de se preocupar conosco, que é a coisa que mãe mais gosta, e a poupávamos de descobrir a nossa falta de caráter. Melhor um doente do que um vagabundo. E se ela não acreditasse, e nos mandasse ir à escola de qualquer jeito, ainda tínhamos um trunfo sentimental. "Então vou ter que inventar uma história para a professora", querendo dizer vou ter que mentir para outra mulher como se ela fosse você. "Está bem, fica em casa estudando!" E ficávamos em casa, fazendo tudo menos estudar, dando-lhe todas as razões para dizer que não nos agüentava mais, que é outra coisa que mãe também adora.
A primeira namorada. Mentíamos para preservar nosso orgulho, certo?
— Não, não, eu estava passando por acaso. Você acha que eu fico rondando a sua casa o dia inteiro, é?
Mas o que vocês pensariam se nós disséssemos: "Sim, sim, não posso ficar longe de você, penso em você o dia inteiro, aqueles telefonemas que você atende e ninguém fala, sou eu! Confesso, sou eu! Vamos nos casar! Eu sei que eu só tenho 12 anos e você tem 11, mas temos que nos casar! Senão eu morro. Senão eu morro!"? Vocês se assustariam, claro. A paixão nessa idade pode ser um sumidouro. Mentíamos para nos proteger do sumidouro.
Outras namoradas. Outras mentiras.
— Eu só quero ver, juro. Não vou tocar.
Vocês não queriam ser tocadas, mas ao mesmo tempo se decepcionariam se a gente nem tentasse. Nem desse a vocês a oportunidade de afastar a nossa mão, indignadas. Ou de descobrir como era ser tocada.
Namorar — pelo menos no meu tempo, a Renascença — era uma lenta conquista de territórios hostis, como a dos desbravadores do Novo Mundo.
Avançávamos no desconhecido, centímetro a centímetro, mentira a mentira.
— Pode, mas só até aqui.
— Está bem. Não passo daí.
— Jura?
— Juro.
— Você passou! Você mentiu!
— Me distraí!
Dávamos a vocês todos os álibis, todas as oportunidades para dizer depois que tudo acontecera devido à nossa calhordice e não à vontade que vocês também sentiam. Não mentíamos para vocês, mentíamos por vocês. Os verdadeiros cavalheiros eram os que enganavam as mulheres. Os calhordas diziam, abjetamente, a verdade. Não faziam o que juravam que não iam fazer, transferindo toda a iniciativa a vocês. É ou não é?

download da obra completa
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Jorge Amado - Os velhos marinheiros


O livro é composto de duas novelas curtas: A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Agua, que é motivo de uma insólida luta: a de família, querendo preservar a memória do verdadeiro Quincas Berro D'Água e dos companheiros de boêmia que preparam o "verdadeiro" velório do amigo organizando uma farra que termina no mar, onde Quincas acaba sendo sepultado como marinheiro. É um dos trabalhos mais "literários" de Jorge Amado, mesclando o humor algo fantástico a uma intriga picaresca surpreendente e insólita. A Segunda novela é A Completa Verdade sobre as Discutidas Aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, Capitão de Longo Curso. Trata da história do Comandante Vasco Moscoso, motivo de discórdias quanto a sua competência como navegador. Chamado a Belém para substituir o comandante de um navio, o qual havia morrido, recebe a agressão da tripulação que não o aceita. Moscoso consegue manobrar o navio, levando de roldão todos os barcos do porto.

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