domingo, 2 de novembro de 2008

Ensaio: Vinícius de Moraes e a Morte

Por: Seleste Michels da Rosa

Percebemos mediante a leitura da obra completa de poesias de Vinícius que o poeta conhecido por suas canções de amor tem uma obsessão bem diversa daquela pela qual ficou conhecido: a morte. Por isto, esse ensaio pretende ver como o poeta Vinícius de Moraes trata este tema, e isso também revela o quanto a crítica comum não estava de todo equivocada quando liga estreitamente o poeta ao amor, pois a morte que o poeta apresenta é bastante ligada à temática amorosa. Conforme Gomes ([s.d], p.28), isso é comum na poesia metafísica: “Muitas vezes, entrelaçado ao tema do amor, surge o da morte, tanto em poemas profanos como religiosos [...]”. Sabemos que na obra de Vinícius há tanto poemas religiosos quanto profanos e veremos como essa ligação se repete nos dois tipos de suas poesias.
Através desta preocupação com o tema da morte, o poeta adentra um estilo de poesia
metafísica, já que “o que caracteriza a metafísica é a transcendência.” (FREICHEIRAS, 2001, p. 62). E o poeta parece tratar exatamente deste lugar onde o concreto sozinho não pode dar conta da explicação do mundo. O lugar onde isso se mostra mais evidente é a hora da morte, o momento sublime onde um indivíduo deixa de estar em seu corpo. É nesse momento que vemos o ser superar o ente, ou seja, o ser humano é mais universal nesta hora comum a todos, por isso supera sua condição de ente, isto é, singular e individual. Assim, a relação com essa temática busca a essencialidade do humano. Conforme afirma Morin (1988, p. 31): “este horror engloba realidades aparentemente heterogêneas: a dor do funeral, o terror da decomposição do cadáver, a obsessão da morte. Porém, dor, terror e obsessão têm um denominador comum: a perda da individualidade.”. Sendo assim, na morte, nos entrosamos em um sentimento coletivo, que tende mais à espécie do que ao sujeito e isso nos põe em conflito direto com a idéia de morte. De uma leitura atenta de sua obra podemos ver o quanto o poeta trata a morte de maneira conflituosa, ora como fuga dos desejos incessantes da carne, ora como apavorante fim da doce vida; mas é perceptível que em ambas situações essa
temática está ligada ao desejo, como castigo ou como fim dele e nos poemas do fim da vida, a uma certa plenitude do amor verdadeiro.

Leia o ensaio na íntegra
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/viewFile/5092/2914

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