"A obra de Jorge Amado é talvez a maior empreitada literária para tornar o Brasil legível aos seus contemporâneos e atraente aos estrangeiros. A fim de criar um universo de histórias e personagens que interessassem aos brasileiros, escreveu mais de 40 livros, adotando, na maioria deles, a forma clássica do romance. Não se interessou pelas experiências vanguardistas. Queria ser lido por todos.
Sua literatura, de ambição balzaquiana e folhetinesca, buscou descrever tanto a violência que define as nossas relações sociais, quanto a esperança, a ternura e a malícia que ele imaginava constituintes do caráter do ‘povo brasileiro’. A Bahia é seu porto, mas os seus livros são todos eles a universalização de lutas empreendidas pelos personagens por justiça ou pelo direito de viver.
É essa confluência entre sentido social e humanista da obra, reivindicação política, riqueza romanesca e forte coloração local que fez a fama internacional de Jorge Amado. A alguns estrangeiros, porém, o que fascina no escritor não é o elemento tropical, mas o engajamento, expresso principalmente em suas obras iniciais, seja na revolução comunista, seja na expressão romanesca dos ‘gestos e gritos’ da vida, como assinalou Albert Camus.
Para descobrir esse Jorge Amado dos primórdios é preciso hoje algum esforço. A sua glória obscureceu a sua literatura. As facilitações que pôde fazer nas obras finais eclipsaram o drama de seus principais livros. Aos poucos, Jorge Amado foi folclorizado e se folclorizou, enquanto vinha por terra o comunismo e a sua influência na política local. Seus personagens se transformaram em imagens de uma brasilidade arquetípica. Ele próprio se tornou ponto turístico da Bahia, que por sua vez passou a se confundir com seus livros. Jorge Amado realizou a proeza que almeja todo escritor. Viu sua obra penetrar no imaginário de seu tempo e construir um mundo que não é mais particular, mas de milhares, de uma época inteira. Isso faz um clássico. Um dia talvez a sua outra ambição possa se manifestar: a de que essa obra seja lida como apelo à libertação e à liberdade, que, na sua literatura, constituem a glória e a razão de viver.
Sua literatura, de ambição balzaquiana e folhetinesca, buscou descrever tanto a violência que define as nossas relações sociais, quanto a esperança, a ternura e a malícia que ele imaginava constituintes do caráter do ‘povo brasileiro’. A Bahia é seu porto, mas os seus livros são todos eles a universalização de lutas empreendidas pelos personagens por justiça ou pelo direito de viver.
É essa confluência entre sentido social e humanista da obra, reivindicação política, riqueza romanesca e forte coloração local que fez a fama internacional de Jorge Amado. A alguns estrangeiros, porém, o que fascina no escritor não é o elemento tropical, mas o engajamento, expresso principalmente em suas obras iniciais, seja na revolução comunista, seja na expressão romanesca dos ‘gestos e gritos’ da vida, como assinalou Albert Camus.
Para descobrir esse Jorge Amado dos primórdios é preciso hoje algum esforço. A sua glória obscureceu a sua literatura. As facilitações que pôde fazer nas obras finais eclipsaram o drama de seus principais livros. Aos poucos, Jorge Amado foi folclorizado e se folclorizou, enquanto vinha por terra o comunismo e a sua influência na política local. Seus personagens se transformaram em imagens de uma brasilidade arquetípica. Ele próprio se tornou ponto turístico da Bahia, que por sua vez passou a se confundir com seus livros. Jorge Amado realizou a proeza que almeja todo escritor. Viu sua obra penetrar no imaginário de seu tempo e construir um mundo que não é mais particular, mas de milhares, de uma época inteira. Isso faz um clássico. Um dia talvez a sua outra ambição possa se manifestar: a de que essa obra seja lida como apelo à libertação e à liberdade, que, na sua literatura, constituem a glória e a razão de viver.
"Jorge Amado", copyright Folha de S. Paulo, editorial, 8/8/01
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