sábado, 15 de novembro de 2008

A sociedade nas crônicas de Luís Fernando Veríssimo

Por:
Cristina Markowski / Claudia Carvalho / Rodrigo Santos de Oliveira

Caráter sociológico presente em suas obras
As crônicas ficcionais de Veríssimo a que nos reportaremos, intituladas: “A volta da Andradina”, “A mulher do Silva”, “Posto 5” e “A descoberta”, serão utilizadas para comprovação da natureza social dos textos desse escritor.

A primeira delas, “A volta da Andradina”, trata do constrangimento de uma família ao receber de volta um ente recém-separado, Andradina, ainda muito abatida, devido ao recente desenlace conjugal. A simples menção ao nome de seu ex-marido vira tabu, e todos na casa se vêem numa posição muito desconfortável, evitando ao máximo qualquer referência ao casamento desfeito.

Na segunda, “A mulher do Silva”, a questão fundamental está relacionada à preocupação das pessoas com a opinião alheia, com as convenções sociais. O personagem Silva, ao exigir de um vizinho que pintasse a fachada de sua casa, na qual foram escritas palavras que colocavam em dúvida a conduta moral de sua esposa, acaba por arcar com todas as despesas relativas à pintura. Acontece que, depois disso, outras casas da mesma rua apareceram com insinuações semelhantes sobre a mulher do Silva em suas fachadas. Silva não teve dúvidas: mandou pintá-las também.

Na penúltima crônica, “Posto 5”, o tema abordado é o relacionamento de uma mulher madura com um rapaz vinte anos mais jovem e a decepção que ela sofre quando, dois meses após tê-la abandonado, ela o reencontra na praia e ele, ao invés de implorar pelo seu perdão e pedir para que ela o aceitasse de volta - como era da vontade dela - a apresenta ao seu novo amor, uma garota de dezoito anos.
Por fim, em “A descoberta”, o enfoque fica por conta das expectativas paradoxais que um pai deposita no filho. O pai aparece de surpresa no apartamento do filho, após anos lhe mandando dinheiro, a pretexto, segundo o filho, nas cartas que escrevia para pedir dinheiro, de custear noitadas regadas a bebidas e mulheres. Esse pai chega ao apartamento de seu filho cheio de orgulho e louco para ver com seus próprios olhos o espécime viril e fanfarrão que ele ajudara a gerar. Qual não foi a decepção dele quando ouve de seu filho que não havia, nem nunca houve, mulheres, tampouco orgias sexuais regadas a uísque importado, e que o dinheiro que ele lhe enviara durante todos aqueles anos custeara os seus estudos da faculdade e materiais de pesquisa.

Após essas colocações, podemos concluir que, por trás das crônicas de Luís Fernando Veríssimo há toda uma estrutura social minimamente demarcada. Seus personagens são seres comuns, figuras criadas a partir de estereótipos estabelecidos pela sociedade em que vivemos. As situações expostas em suas criações são as mais corriqueiras possíveis, vivenciadas por todo e qualquer mortal em seu dia-a-dia, afinal de contas, quem de nós não viveu ou conhece alguém que tenha vivido, alguma vez na vida, alguma das quatro situações elencadas acima? Veríssimo cria seres eminentemente sociais e escreve suas crônicas para outros seres capazes de compreender o que há por trás de cada metáfora por uma razão muito simples: a de que nós, seres sociais, exercemos uma capacidade muito grande de identificação com os temas e personagens com que ele tão generosamente nos presenteia.

A maneira como Luís Fernando Veríssimo escreve revela sua competência em abstrair toda a essência da sociedade em que ele, escritor, está inserido, e transferi-la para o leitor. Seu poder de representação da realidade de maneira ficcional traduz todo o valor estético de suas obras.
Portanto, não resta dúvidas de que podemos enxergar a sociedade refletida nas obras de Luís Fernando Veríssimo, com todos os seus vícios e suas virtudes, expondo suas mazelas com muito bom humor e ironia.
Texto na íntegra:

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