quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Guimarães Rosa - Saragana


Sagarana (saga: estória; rana: parecido com) são nove contos (estórias) em que o autor tematiza o bem e o mal, os pequenos e os grandes dramas do sertanejo, a perseguição e a procura, o abandono, as brigas e desencontros por questões de amor, a humanização de bichos e plantas, a mitologia das pessoas do interior.
Entre esses contos, destaca-se o O Burrinho Pedrês, narrativa na qual, o velho e imprestável burrinho Sete-de-Ouros é elevado à categoria de herói quando, ajudando os vaqueiros a conduzir uma boiada, salva da morte os dois vaqueiros mais fracos. A linguagem, aqui, é carregada de ritmos, de jogo de palavras, de cadências, de trabalho sonoro e poético com a prosa.
Observe o fragmento a seguir:

"Apuram o passo, por entre campinas ricas, onde pastam ou ruminam outros mil e mais bois. Mas os vaqueiros não esmorecem nos eias e cantigas, porque a boiada ainda tem passagens inquietantes: alarga-se e recomprime-se, sem motivo, e mesmo dentro da multidão movediça há giros estranhos, que não os deslocamentos normais disputam a colocação na vanguarda, outros procuram o centro, e muitos se deixam levar, empurrados, sobrenadando quase, com os mais fracos rolando para os lados e os mais pesados tardando para trás, no coice da procissão.
Eh, boi lá!... Eh-ê-ê-ê-eh, boi!... Tou! Tou! Tou!...
As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guapas, estrondos e baques, o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...
“Um boi preto, um boi pintado,
cada um tem sua cor.
cada coração um jeito
De mostrar o seu amor.”
Boi bem brabo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança dôido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...
“Todo passarinh’ do mato
tem seu pio diferente.
Cantiga de amor doído
não carece ter rompante...”


http://www.livrosparatodos.net/biografias/joao-guimaraes-rosa.html

sábado, 25 de outubro de 2008

Vinícius de Moraes - Poeta Aprendiz

Video "Poeta Aprendiz" na voz de Adriana Calcanhoto


Se preferir: Com o próprio Vinícius

Vínicius de Moraes - Boa Música

Vídeo - Vinícius de Moraes canta "Tarde em Itapuã" acompanhado por Toquinho.


http://br.youtube.com/watch?v=gfwCMV-MkA4

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Luís Fernando Veríssimo - Jazz e Bossa Nova


SÃO PAULO - O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo não pára de fazer piada nem quando o assunto é música. Desde 1995, ele atua no Jazz 6, grupo jazzístico em que toca sax alto, que hoje é formado apenas por cinco integrantes. "O Jazz 6 é o menor sexteto do mundo", ele brinca. Com essa formação inusitada, o sexteto chega ao quarto CD - Four -, em que aparecem composições do jazz e da bossa nova.
O interesse comum pela bossa nova e jazz, que têm suas zonas de cruzamento, como lembra Verissimo, guiava já o primeiro CD Agora É Hora (1998). Os outros dois trabalhos são Speak Low (2001) e A Bossa do Jazz (2003), este último "uma homenagem distraída" a Tom Jobim, compositor que está no novo disco.
Saiba mais: http://www.estadao.com.br/arteelazer/not_art191189,0.htm

MACHADO DE ASSIS "A DAMA DO LIVRO"

Por Luiz Antonio Aguiar*

Conta-se que Machado, lá por 1855, contrariando seus hábitos, deixou de aparecer, nos finais de tarde, na Livraria Garnier. Seus amigos arriscaram que estaria com uma amante e foram segui-lo. De fato, havia uma senhora, A Dama do Livro, quadro do italiano Roberto Fontana, hoje na Academia Brasileira de Letras. Machado se apaixonara pela pintura e, achando o preço acima de suas possibilidades, contentava-se em visitá-la, diariamente, na vitrina. Os amigos deram a tela de presente a Machado, com um bilhete: “Não se esqueça de nós”. Machado, em agradecimento, lhes dedicou o “Soneto Circular”.
Ora, as reservas de Machado sempre estimularam fantasias. Tal como a Lenda da Madrinha, a senhora Mendonça Barrozo, que lhe teria aberto sua biblioteca e proporcionado ao afilhado pobre, que não freqüentou escola, a iniciação nos clássicos da literatura. Só que a madrinha morreu quando ele tinha 6 anos, idade em que ninguém já teria se iniciado em clássicos. Existe ainda a Lenda do Padeiro, um amigo, padeiro e francês, que, entre uma fornada e outra, haveria ensinado ao menino o idioma, algo jamais comprovado e pouco factível.
A mais peculiar é a da origem de seu apelido. Temos o poema de Drummond, intitulado “A um Bruxo com Amor”. Mas, existe A Lenda do Caldeirão. Na ABL, está o caldeirão de bronze em que Machado costumava queimar cartas e manuscritos descartados, no sobrado da Rua Cosme Velho, 18. Vendo-o assim, a vizinhança deu de gritar: Olha o Bruxo do Cosme Velho!...
Nessa biografia, não faltam controvérsias. Na certidão de óbito de Machado, além de omitida sua filiação, está que o mulato, autor de agudos textos contra a escravatura, era branco. E como profissão do presidente da ABL, nosso maior romancista, registrou-se: funcionário público.
Entretanto, nenhum mistério biográfico será tão fértil quanto suas bruxarias literárias. Esse escritor que alguns querem reduzir ao realismo e a mero retratista da História é o mesmo que deu a um canário o poder de desnortear um Darwin tropical devoto da ciência e da razão. Que transmitiu a um cronista a língua guliveriana para este participar do diálogo de dois burros sobre o progresso. Que conjurou defuntos e debateu com vermes sobre o lado patético da morte. E que, se retratou o Brasil, antes inventou uma câmera, um filme... e uma nova inteligência para decifrar os dilemas do Ser-Brasileiro.
Na ABL está o caldeirão em que Machado queimava cartas e manuscritos
Já o debate Capitu: culpada ou inocente, em cartaz há 109 anos, é a expressão corrente da impossibilidade de desvendar esse romance. Por um lado, os ardis de Bento Santiago incitam à suspeita e podemos tentar desconstruí-los, como se fossem um véu encobrindo a verdade. Por outro, levantaríamos o véu somente para constatar que não há, por baixo, face alguma. O que lemos, mesmo que para contestá-la, é a narrativa de Bentinho; não existe uma Narrativa de Capitu, nesse romance.
Ou seja, podemos denunciar a intriga que Bento Santiago fez contra Capitu para convencer o leitor... ou avalizar as confissões de um solitário Bentinho... Ou nenhuma das hipóteses? Ou ambas? Que tal alterná-las, caprichosamente? Afinal, escreveu o Bruxo: “Há neste mundo o que se possa dizer verdadeiramente verdadeiro? Tudo é conjetural.”
Algo semelhante ocorre quando nosso cronista se mete num leilão de objetos usados e lá fica a conjeturar sobre o background de uma espada. A princípio, quase nos convence de que teria sido usada na Guerra do Paraguai. Em seguida, lembra a notícia, num jornal, da chegada de imigrantes, dos quais, entre muitos de cada nacionalidade, havia um grego. Daí, quem empenhou a espada teria de ser esse grego, até porque, sendo apenas um, reclamaria menos que os demais, do cronista, caso estivesse sendo acusado injustamente. Finalmente, aventa que a espada teria sido trazida por um contra-regra, que a roubara de um cenário de teatro para conseguir uns cobres para o almoço. E encerra: “Se tal foi, façam de conta que não escrevi nada, e vão almoçar também, que é tempo”.
Foi a última crônica que Machado publicou. Haveria da parte dele despedida mais significativa e elegante?
* Escritor, autor de Almanaque Machado de Assis e organizador da coletânea de crônicas de Machado O Mínimo e o Escondido, pela Salesiana

domingo, 19 de outubro de 2008

Jorge Amado - Um Poeta?

Pessoal, fiz algumas pesquisas para saber se temos poemas escritos por Jorge Amado, mas não obtive muito sucesso, mas como sou persistente, continuei procurando e me deparei com um texto que achei interessante e resolvi compartilhar com vocês, assim juntos descobrimos se há veracidade nas informações.
Trecho do texto
"Mais do que o valor estritamente literário dos poemas de juventude, porém, a descoberta do livro tem a virtude de lançar alguma luz sobre um período desconhecido da vida do escritor: os 11 anos - entre 1933 e 1944- em que esteve casado com Matilde".

No site: http://www.nordesteweb.com/not08/ne_not_20010815d.htm

No nosso Grupo Virtual há uma Enquete. Participe.
http://br.groups.yahoo.com/group/lercompreender/polls

Jorge Amado é personagem de romance

Escritor lança romance em que Jorge Amado é personagem.
O projeto "Com a Palavra o Escritor", 24 de setembro, na Fundação Casa
de Jorge Amado (Pelourinho), traz o escritor Carlos Emílio C. Lima e
seu novo livro, "Maria do Monte: o romance inédito de Jorge Amado"
(Editora Tear da Memória). O livro é uma ficção livremente inspirada na
biografia do escritor Jorge Amado (1912-2001), que trata de uma obra
perdida que Amado teria escrito nos anos 30.

http://plugcultura.wordpress.com/2008/09/24/416/

Confira no site de literatura Cronópios o primeiro capítulo de “Maria do Monte: o romance inédito de Jorge Amado”.

http://www.cronopios.com.br/blogdotexto/blog.asp?id=840

sábado, 18 de outubro de 2008

Grande Sertão: Veredas - Maria Bethânia

Para Ler e Ouvir...

Parte 1


Parte 2

Ano Nacional de Machado de Assis

Uma descrição da profunda e coerente visão do nosso querido Machado de Assis.

"Seus contos são de uma psicologia tão certeira quanto rica na sua radical sutileza. Seus romances que renovaram o gênero (tudo, aliás, ele renovou, com essa forma de unir humor fino a uma ótica filosófica à qual não escapava um único detalhe no jogo entre os seres e as instituições). Suas crônicas que disfarçavam numa conversa “leve” a testemunha de situações reveladoras do Brasil e dos brasileiros, mal acostumados até então com românticos e pós-românticos ainda experimentando exageradas maneiras de interpretar a realidade."

Disponível na íntegra no endereço:http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008/09/catalogo-machado-de-assis-web.pdf

domingo, 12 de outubro de 2008

Trechos de obras - Jorge Amado


Jorge Amado
Capitães da areia


Crianças ladronas

As aventuras sinistras dos "Capitães da Areia" - A cidade infestada por crianças que vivem do furto - urge uma providência do Juiz de Menores e do chefe de polícia - ontem houve mais um assalto.
Já por várias vezes o nosso jornal, que é sem dúvida o órgão das mais legítimas aspirações da população baiana, tem trazido noticias sobre a atividade criminosa dos "Capitães da Areia", nome pelo qual é conhecido o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe. Essas crianças que tão cedo se dedicaram à tenebrosa carreira do crime não têm moradia certa ou pelo menos a sua moradia ainda não foi localizada. Como também ainda não foi localizado o local onde escondem o produto dos seus assaltos, que se tornam diários, fazendo Jus a unia Imediata providência do Juiz de Menores e do dr. Chefe de Polícia.
Esse bando que vive da rapina se compõe, pelo que se sabe, de uni número superior a 100 crianças das mais diversas idades, indo desde os8 aos 16 anos. Crianças que, naturalmente devido ao desprezo dado à sua educação por pais pouco servidos de sentimentos cristãos, se entregaram no verdor dos anos a uma vida criminosa.
São chamados de "Capitães da Areia" porque o cais é o seu quartel-general. E têm por comandante um mascote dos seus 14 anos, que é o mais terrível de todos, não só ladrão, como já autor de um crime de ferimentos graves, praticado na tarde de ontem. Infelizmente a Identidade deste chefe é desconhecida...
Para continuar a leitura.......
http://www.culturabrasil.pro.br/zip/capitaesdeareia.rtf
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Trechos de obras - Luís Fernando Veríssimo


Luís Fernando Veríssimo
A Mesa Voadora

O buffet

Um dos martírios da vida social moderna é o buffet. Ele nasceu com boas intenções, como resposta à necessidade de alimentar da maneira mais prática o maior número de pessoas com o máximo de elegância possível. Isto é, sem que a festa pareça um rififi no refeitório. E difícil servir 300 ou 400 pessoas nas suas mesas e ao mesmo tempo, à francesa, a não ser que haja quase tantos garçons quanto convidados. A solução, já que a comida não pode ir às pessoas, é as pessoas irem à comida. Outra vantagem do buffet é que, com todos os pratos concentrados sobre uma única e bem ornamentada mesa, ele dá a correta impressão de abundância. Que é, afinal, o que nos leva a festas. Todo buffet é uma alegoria à fartura. Há cascatas de camarões, leitões esquartejados e remontados sobre pedestais de farofa, everestes de maionese, continentes de saladas e de frios. Uma vez, juro, vi um faisão empalhado no centro da mesa, na pose de quem se preparava para decolar deste insensato mundo. Só o que o mantinha na terra era a sua própria carne, em fatias, a seus pés. Diante de um buffet você deve se debater entre dois sentimentos: a vontade de comer tudo e o remorso por estragar a arquitetura. Depois, é claro, de agradecer à providência por pertencer aos 30% da população que comem e à minoria ainda menor que é convidada a buffets. Pois o buffet também é a apoteose da boca-livre.
Os críticos mais moderados do buffet o comparam a uma linha de montagem, e fazem uma injustiça. A linha de montagem é mais organizada. Ao redor de uma mesa de buffet o ser humano reverte ao seu protótipo mais primitivo: a fera diante do alimento. A patina de civilização se quebra, como o exterior caramelado do presunto, e é cada um por si e pelo seu estômago. Já vi velhos amigos duelarem a empurrões diante de um rosbife, e marido e mulher chegarem aos tapas na disputa do último camarão.
Para continuar a leitura.......
http://www.esnips.com/doc/798cbb16-6d62-49b8-b3d0-77663bcbf5dd/Luis-Fernando-Verissimo---A-mesa-voadora.doc
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Trechos de obras - Vinícius de Moraes


Vinícius de Moraes
A arte de ser velho

É curioso como, com o avançar dos anos e o aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si, numa espécie de pudor de que o vejam enfrentar a velhice que se aproxima. Pelo menos entre nós, latinos da América, e sobretudo, do Brasil. E talvez seja melhor assim; pois se esse sentimento nos subtrai em vida, no sentido de seu aproveitamento no tempo, evita-nos incorrer em desfrutes de que não está isenta, por exemplo, a ancianidade entre alguns povos europeus e de alhures.Não estou querendo dizer com isso que todos os nossos velhinhos sejam nenhuma flor que se cheire. Temo-los tão pilantras como não importa onde, e com a agravante de praticarem seus malfeitos com menos ingenuidade. Mas, como coletividade, não há dúvida que os velhinhos brasileiros têm mais compostura que a maioria da velhorra internacional (tirante, é claro, a China), embora entreguem mais depressa a rapadura.
Talvez nem seja compostura; talvez seja esse pudor de que falávamos acima, de se mostrarem em sua decadência, misturado ao muito freqüente sentimento de não terem aproveitado os verdes anos como deveriam. Seja como for, aqui no Brasil os velhos se retraem daqueles seus semelhantes que, como se poderia dizer, têm a faca e o queijo nas mãos. Em reuniões e lugares públicos não têm sido poucas as vezes em que já surpreendi olhares de velhos para moços que se poderiam traduzir mais ou menos assim: "Desgraçado! Aproveita enquanto é tempo porque não demora muito vais ficar assim como eu, um velho, e nenhuma dessas boas olhará mais sequer para o teu lado..." ...
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http://www.viniciusdemoraes.com.br/poesia/index.php
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http://www.viniciusdemoraes.com.br/

Trechos de obras - Guimarães Rosa


Guimarães Rosa
A Terceira Margem do Rio
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta....
Para continuar a leitura.......
http://www.releituras.com/guimarosa_margem.asp

Trechos de obras - Machado de Assis




Machado de Assis
Uma excursão milagrosa

Tenho uma viagem milagrosa para contar aos leitores, ou antes uma narração para transmitir, porque o próprio viajante é quem narra as suas aventuras e as suas impressões.
Se a chamo milagrosa é porque as circunstâncias em que foi feita são tão singulares, que a todos há de parecer que não podia ser senão um milagre.
Todavia, apesar das estradas que o nosso viajante percorreu, dos condutores que teve e do espetáculo que viu, não se pode deixar de reconhecer que o fundo é o mais natural e possível deste mundo.
Suponho que os leitores terão lido todas as memórias de viagem, desde as viagens do Capitão Cook às regiões polares até as viagens de Gulliver, e todas as histórias extraordinárias desde as narrativas de Edgar Poe até os contos de Mil e Uma Noites. Pois tudo isso é nada à vista das excursões singulares do nosso herói, a quem só falta o estilo de Swift para ser levado à mais remota posteridade.
As histórias de viagem são as de minha predileção. Julgue-o quem não pode experimentá-lo, disse o épico português. Quem não há de ir ver as coisas com os próprios olhos da cara, diverte-se ao menos em vê-las com os da imaginação, muito mais vivos e penetrantes.
Viajar é multiplicar-se.
Mas, devo dizê-lo com toda a franqueza, quando ouço dizer a alguém que já atravessou por gosto doze, quinze vezes o Oceano, não sei que sinto em mim que me leva a adorar o referido alguém. Ver doze vezes o Oceano, roçar-lhe doze vezes a cerviz, doze vezes admirar as suas cóleras, doze vezes admirar os seus espetáculos, não é isto gozar na verdadeira extensão da palavra?....
Para continuar a leitura.......
http://portal.mec.gov.br/machado/arquivos/pdf/contos/macn015.pdf

Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, vol. II,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Publicado originalmente em Jornal das Famílias, abril a maio de 1866.

Obra Completa
http://portal.mec.gov.br/machado/index.php?option=com_content&task=category&sectionid=17&id=34&Itemid=173


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Características Literárias - Vinícius de Moraes


Tanto no tom exaltado, cheio de ressonâncias, como no tema e forma, a poesia inicial de Vinícius de Moraes está impregnada de religiosidade e misticismo neo-simbolistas. Em oposição, talvez, às liberdades formais da primeira fase do Modernismo, o poeta parece querer recuperar o espiritualismo na poesia, atitude comum dos poetas ligados à revista Festa.
A partir de Cinco Elegias, sua poesia se transforma. Não tão longa, revela uma maior liberdade de escolha e de expressão. Os temas desse poeta lírico são, por excelência, agora concretos e do cotidiano; , o amor, o dia-a-dia e a valorização do momento, ao mesmo tempo em que busca algo mais perene, o que revela maturidade e matizes mais pessoais de inspiração. O eixo temático de sua obra se desloca para a intimidade dos afetos e para um sensualismo erótico, contrastivo com sua educação religiosa; o poeta está sempre hesitando entre os prazeres da carne e as angústias do pecador.
Sua linguagem se transforma: é direta e ardente, usando palavras realistas e ao mesmo tempo muito líricas para descrever a confidência, a ternura física e a plenitude dos sentidos. Os sonetos são considerados a parte mais importante de sua obra. Com toques de erotismo e competência, ele revigorou essa forma de composição, ignorada pelos modernistas da primeira fase, produzindo, assim, alguns dos mais belos sonetos de nossa língua.
http://poetasbrasil.webcindario.com/vmoraes.htm

Mais informações no link:
http://br.geocities.com/vmhp2001/caract.htm

Luís Fernando Veríssimo - Características Literárias


CRÔNICAS

"É um gênero literário que tem assumido no Brasil, além da personalidade de gênero, um desenvolvimento e uma categoria que fazem dela uma forma literária de requintado valor estético, um gênero específico e autônomo.

... A crônica é na essência uma forma de arte, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante ao espetáculo da vida, as coisas, os seres. O cronista é solitário com ânsia de comunicar-se. E ninguém melhor se comunica do que ele, através desse meio vivo, álacre, insinuante, ágil que é a crônica. A literatura, sendo uma arte – cujo meio é a palavra – e portanto oriunda da imaginação criadora, visando a despertar o prazer estético – nada mais literário do que a crônica, que não pretende informar, ensinar, orientar.
Crônicas: leia o texto na íntegra no link abaixo:
http://ofiodaspalavras.blogspot.com/2004/10/ainda-sobre-lus-fernando-verssimo-o.html


... As crônicas de Luís Fernando Veríssimo trilham dois caminhos. Num primeiro momento, percebemos a utilização do riso como provocação de reflexões em torno dos costumes. Atrás da comicidade das crônicas - “Anônimos” e “Realismo” -encontramos a utilização do riso como arma para a denúncia de comportamentos da sociedade.
... Deleitando-se com a língua portuguesa, Luís Fernando Veríssimo demonstra suas imensas possibilidades de provocar o riso...
... Algumas crônicas que melhor representam o emprego das técnicas do risível para o que, em um primeiro instante, parece ser apenas o encontro do prazer. “Defenestração”, “Palavreado”, “Bons tempos”, e “O gigolô das palavras” servem para a comprovação de que o riso na linguagem esconde algo mais do que uma simples liberação das tensões. As duas primeiras crônicas foram extraídas da recente coletânea Comédias para se ler na escola; encontramos “Bons tempos” no livro batizado de Zoeira e a crônica “O gigolô das palavras” nomeia a obra em que foi publicada.

Assim como na vertente encabeçada por Aristóteles, que demonstra que riso se presta para punir os costumes, a linguagem empregada por Veríssimo como mecanismo para o surgimento de situações cômicas também serve para apontar uma realidade escamoteada pelo riso. A simples liberação de tensão e prazer, proposta por Platão e defendida por Freud, cede lugar para as reflexões em torno da linguagem e seu funcionamento.
A proposição de uma tipologia do riso na obra de Luís Fernando Veríssimo, portanto, divide-se em duas partes. Na primeira, encontramos a vertente do “punir pelo riso”, inaugurando assim o primeiro tipo de riso suscitado pela pena de Luís Fernando Veríssimo. A última parte propõe uma segunda tipologia do riso na obra do autor. A aparente brincadeira com a linguagem apresenta-se afinada com as considerações de liberação de prazer apontadas por Platão. Após observarmos as crônicas de Luis Fernando Veríssimo, somos capazes de perceber, além dos dois tipos de riso encontrados nos textos de Luís Fernando Veríssimo, “um segundo mundo e uma segunda vida” (BAKHTIN, 1999:4), proposto pelo riso.
Leia na íntegra o texto no link abaixo:
http://www.inicepg.univap.br/INIC_2006/epg/08/EPG00000512-ok.pdf

Jorge Amado - Características Literárias


Jorge Amado, em largos painéis coloridos, retrata o regionalismo nordestino, mostrando a desgraça e a opressão do negro, do pobre e do trabalhador, nas zonas cacaueiras e urbanas da Bahia. Através desses tipos marginalizados, apresentados com humanidade, simpatia calorosa e um vivo senso do pitoresco, analisa toda uma sociedade.
Um grande expoente do Modernismo, sua maturidade literária se revela na capacidade de mesclar realismo e romantismo, lirismo poético e documento em sua narrativa, cuja linguagem explicita o falar de um povo e cuja ideologia se sobrepõe na forma de uma necessidade premente de justiça social. O caráter político e revolucionário das obras iniciais não se encontra nos romances pós década de 50, o que tem feito críticos dividirem sua obra em diferentes temáticas. O Romance Proletário que retrata a vida rural e citadina de Salvador, com forte apelo social. Incluem-se nesse tipo: Suor, O País do Carnaval e Capitães da Areia. O "Ciclo do Cacau" tem como temas os latifúndios da região cacaueira e as lutas que, em tom épico, retratam a ganância dos coronéis, a exploração do trabalhador rural. Pertencem a esse ciclo: Cacau, Terras do Sem Fim e São Jorge dos Ilhéus.

A Pregação Partidária é constituída por um grupo de escritos de cunho político: O Cavaleiro da Esperança e O Mundo da Paz.
A última fase se compõe de Depoimentos Líricos e Crônicas de Costumes e se inicia com Jubiabá e Mar Morto, cujos temas giram em torno das rixas e amores marinheiro. Consolidam-se com Gabriela, Cravo e Canela que, mesmo tendo Ilhéus e problemas políticos, como pano de fundo, tende mais para crônica amaneirada de costumes. Para Bosi, a ideologia que permeia as obras de 30 e 40 foi abandonada. A partir daí, tudo se dissolveu "no pitoresco, no saboroso, no apimentado do regional".
http://literaturavirtual.com.br/?link=conteudo_view2&id=41

sábado, 4 de outubro de 2008

Machado de Assis - Digital


Toda obra de Machado de Assis está disponível em versão digital (html e pdf) no portal criado pelo Ministério da Educação (MEC). É possível, também, obter dados biográficos, bibliográficos e um perfil do autor e sua obra.

Primeiras Estórias - Guimarães Rosa

As margens da alegria

Narrado em terceira pessoa, esse primeiro conto de Sagarana, de Guimarães Rosa, é considerado, com o último, Os cimos, a moldura do livro, já que apresenta as mesmas personagens no mesmo ambiente. Leia mais...
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/as_margens_da_alegria_conto